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Foto do escritorBruno Gonçalves

Crise energética: debates entre segurança e sustentabilidade

O início da década de 2020 será lembrado por toda história como um dos períodos mais conturbados no que se refere à energia mundial. A junção de alguns acontecimentos culminou em uma das maiores crises energéticas que o mundo já viu. A pandemia de COVID-19, que teve início em 2020, resultou na queda de demanda e oferta de energéticos, cenário que teve consequências severas dois anos depois, com a retomada da economia e a baixa capacidade de abastecimento. Intensificando o cenário, em fevereiro de 2022, a Rússia ataca o território da Ucrânia, o que trouxe distúrbios para a estabilidade no suprimento e altos preços de energia, em especial para a Europa.

Esta não é a primeira crise energética que o mundo vivencia. Os anos 1970 foram marcados por acontecimentos no setor que ficariam para a história. Nesta década, as crises giraram em torno do petróleo e tinha como saída a redução da demanda e da dependência do mercado externo para fornecimento do hidrocarboneto. Agora, as soluções são mais abrangentes, e não apenas o petróleo está em jogo, mas o gás natural, o carvão, a eletricidade, a segurança alimentar e o clima; a resolução não recai apenas sobre a diversificação da matriz energética, mas no equilíbrio entre segurança e sustentabilidade.

Se a busca por transição energética já estava em pauta há alguns anos, em 2022 a acessibilidade energética entra em cena para consagrar o binômio do século. A busca por novas fontes de energia associada à segurança de abastecimento se torna um dos maiores desafios desta geração. O recente relatório World Energy Outlook 2022 (WEO), publicado pela Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês) discorre, além dos principais números do setor, sobre descarbonização e estabilidade.

Nesse contexto, o desenvolvimento de novas tecnologias de geração de energia é um dos pontos observados pelo estudo da IEA. Dentre as tecnologias analisadas pelo documento, as eólicas offshore, que têm ganhado expressividade nas pautas de discussões nos últimos anos, estão presentes no WEO. O WEO 2022 trouxe uma pesquisa com os custos da tecnologia por região até o ano de 2050, informações que são cruciais para construir estratégias comerciais e políticas públicas para o setor energético.



De uma maneira geral, as regiões seguem a mesma tendência de queda ao longo dos anos. Os Estados Unidos - que estão em 13º no ranking de maiores geradores de eólicas offshore, com 42 MW em operação (STATISTA, 2021) - são o país que representam maior queda no custo, de US$ 4.040,00/kW, em 2021, para US$ 1.820,00/kW, em 2050, totalizando um barateamento de mais de 40% só até o final da década, e em torno de 50% até 2050.

Outro país interessante para se analisar é a Índia. De acordo com a IEA, a matriz energética indiana tem cerca de 80% de fontes fósseis, sendo mais de 40% só carvão, o energético mais poluidor. Tendo em vista que há perspectivas de que a população do país se torne a maior do mundo, e de que haja aumento de consumo de energia por parte dos países emergentes, as eólicas offshore representam uma alternativa para descarbonização do setor de energia indiano.

Segundo Kashish Shah, analista financeiro no Institute for Energy Economics & Financial Analysis (IEEFA, sigla em inglês), a Índia lançou sua política para eólicas offshore em 2015, no entanto não tem nenhuma fazenda eólica em operação ainda. Mesmo tendo o custo da tecnologia inferior ao comparar União Europeia (UE) e China, maiores geradores do mundo, o valor da tecnologia na Índia ainda é alto em relação às outras fontes.


Ao pensar na segurança de fornecimento de energia em meio ao processo de transição energética, a característica de intermitência das fontes renováveis demonstra um desafio deste momento. O WEO 2022 traz, ainda, dados sobre os custos de eletrolisadores de hidrogênio, tecnologia de produção de hidrogênio a partir de eletricidade. Este combustível representa uma promessa de segurança de abastecimento descarbonizado ao utilizar energias renováveis na sua produção, além de ter as energias offshore associadas ao projeto de produção para fornecer eletricidade.



Segundo dados do documento, atualmente, os eletrolisadores de hidrogênio têm um custo médio de US$ 1.500,00/kW, valor que terá redução em mais de US$ 1.000,00/kW até 2050. Vale destacar que a atual década é vista como o principal momento para diminuição deste valor, sendo que, até 2030, a queda será em torno de 65% do custo, totalizando US$ 575,00/kW.

Atualmente, o uso do hidrogênio é visto como uma alternativa aos combustíveis convencionais. Sua produção, se for a base de eletricidade renovável, pode ter baixa pegada de carbono, o que contribui para a descarbonização da economia. Além disso, tem o aspecto da estabilidade a seu favor, já que depois de produzido não detém a característica da intermitência das fontes renováveis.

O desenvolvimento de novas tecnologias é essencial para trazer sustentabilidade e segurança à matriz energética mundial. Se, por um lado, as profundezas do oceano são ricas em hidrocarbonetos, por outro a superfície é a esperança de eletricidade e combustível sustentável. É com ciência e com políticas públicas que se chegará em um mundo capaz de fornecer, efetivamente, o binômio do século.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



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